Textos que me descrevem

Não sou escritora, sou leitora. Ponto. Mesmo que vez por outra apareçam em minha mente cenas vívidas que eu gostaria de ter lido em livros alheios, não as passo para o papel.
Sou uma leitora contumaz. Gosto de ler, de saborear as palavras, de sentir o clima, de me emocionar, de sentir empatia seja com o mocinho ou com o vilão.
Aos escritores só tenho que agradecer. Agradecer e parabenizar pela iniciativa de por no papel uma história única, em não desistir e escrever até a última linha e, no caso de escritores brasileiros, por não esmorecer nas várias tentativas em publicar seu primeiro romance. Sim, porque é uma via crucis conseguir uma editora por aqui. Burocracia, preços altos, demoras nas respostas.
É claro, depois que se fica famoso o tapete vermelho - no caso da Bienal, o azul - é extendido com a maior facilidade. Mas para quem está no início é um tal de "esperaumminutinhoquevoualiejávolto" para nunca mais dar as caras que é uma loucura!

Mas comecei a escrever sobre isso porque mais uma vez encontrei pela internet da vida um texto que me descreve.
Uma amiga querida de facebook e grupo de leitura escreveu em seu blog/site (www.lanocafofo.com), Lilian Silva, um texto que é uma graça. E uma auto-quase-biografia maravilhosa. Com a devida autorização, compartilho com vocês as palavras dela.



Eu e a Literatura ~ by Lilian Silva

A literatura está em cada célula do meu corpo. Carrego em mim todos os personagens dos livros que já li e com eles me sento ao café da manhã, enquanto seguro minha xícara de café quente. Levo-os comigo ao andar na rua e lhes mostro os lugares onde passo. Quando me sento em algum lugar qualquer para ler, sempre tem um deles- ou vários - ao meu lado, espiando o livro aberto que tenho nas mãos.

Os personagens me perseguem como fantasmas e sussurram suas histórias ao meu ouvido, como se eu já não as soubesse, ou talvez para que eu não as esqueça.

Mas eu nunca me esqueço delas. Todas fazem parte de mim.

Essas histórias moldaram a pessoa que sou hoje, e se viajo e flutuo e rio e choro e sou pessoa é por causa delas. A literatura me salvou de mim mesma, e me salva todos os dias.

É o riso que distrai minha mente.

O choro que me lembra que sou humana.

A fantasia que não me deixa crescer nunca.

Os livros me pegam pela mão e me levam a lugares inimagináveis, apresentam-me pessoas novas e tornam possível o impossível. Se sobrevivo à vida real, é culpa da literatura. E por culpa dela também vivo em meio às palavras, me expresso por elas, vivo entre elas.

Não saberia viver sem a literatura, porque ela é a matéria dos meus sonhos… e esses sonhos escorrem, transbordam e invadem minha realidade. Já não sei mais aonde ela começa e eu termino. Transpiro palavras e os textos correm misturados ao meu sangue. Com a literatura posso viver todas as vidas em uma só, e ainda sou eu mesma. Pego cada personagem pela mão no começo de um livro, e juntos atravessamos sua saga, e eu posso deixá-lo seguro e em paz ao final de sua história, embora nem sempre seja fácil soltar sua mão, já que se tornou meu amigo.

Talvez seja por isso que todos eles andem comigo, dentro de mim. E talvez seja essa a razão de a literatura ter se tornado meu alimento, o ar que respiro, uma parte indispensável de mim mesma.

(postado em 10/11/2011, www.lanocafofo.com)

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