Ficha técnica: O Amor nos Tempos do Ouro
Autora: Marina Carvalho
Editora Globo Alt
Lançamento: 2016
328 páginas
25 capítulos + epílogo
POV: primeira pessoa - Cécile - e terceira pessoa
Gênero: Romance de época; Chick Lit; New Adult
Protagonistas: Cécile Queiroz Lavigne, Euclides de Andrade e Fernão
Local/ano: Marseille; RJ; MG/1734, 35
"'Sabes que nunca me apaixonei, maman, mas se porventura o tivesse feito, seria por alguém como ele?'
Cécile Lavigne perdeu todos os que amava e agora está sozinha no mundo. Ela, uma franco-portuguesa que ainda não completou vinte anos, está sendo trazida ao Brasil pelo único parente que lhe restou, o ambicioso tio Euzébio, para casar-se com o mais poderoso dono de terras de Minas Gerais, homem por quem Cécile sente profundo desprezo. Após desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile ainda precisará fazer mais uma difícil viagem. O trajeto até Minas Gerais lhe reserva provações e surpresas que ela jamais imaginaria. O explorador Fernão, contratado por seu futuro marido para guiá-la na jornada, despertará nela sentimentos contraditórios de repulsa e de desejo. Antes de enfim consolidar o temido casamento, Cécile descobrirá todos os encantos e perigos que existem nessa nova terra, assim como os que habitam o coração de todos nós. Com o passar dos dias, crescerá dentro dela a coragem para confrontar todas as imposições da sociedade e também o seu próprio destino."
Cécile é uma jovem órfã que vê sua vida transformada negativamente quando seu tio Euzébio a "vende" a um senhor produtor de minas, no Brasil.
Para chegar até ele, ela faz uma viagem nada agradável (clima, costumes e comida totalmente diferente do que ela estava acostumada), passando mal algumas vezes por conta da comida "pesada", e descobre que ainda terá uma longa jornada de carruagem ou ao lombo de um animal para chegar até a fazenda do noivo.
Além da mudança drástica, Cécile teve de amargar perder o último elo que tinha com seu passado, quando seu tio exige que sua empregada, Marie, fique para cuidar de sua esposa grávida que precisaria de alguém experiente na hora de dar à luz. No lugar de Marie vai uma tal de Úrsula.
No Brasil, um país tão pouco civilizado em relação a Europa e com uma temperatura alta, ela se vê sob o comando de Fernão, um português que havia ido ao Brasil em busca de riquezas pela mineração. Agora, ali estava ele como guia para uma dama para ir encontrar seu noivo, muitos anos mais velho do que ela.
Ao longo da viagem há alguns embates, e ainda que não fossem imediatamente com a cara um do outro, os dias passados em tamanhas diversidades faz com que os dois se aproximem e se conheçam.
Cécile pede encarecidamente que Fernão não a leve até seu noivo, mas Fernão tinha fortes motivos para cumprir o acordo com Euclides.
Finalmente, ao encontrar o poderoso chefão do minério, Cécile tem mais más notícias.
Euclides também era um fanático religioso e tinha fortes convicções de como uma mulher deveria ser submissa a seu marido.
O tratamento que ele dá à escrava Malikah - que todos sabiam estar grávida do filho de Euclides, Henrique, mas haviam espalhado que era do feitor - na frente de Cécile tiraria qualquer dúvida dela sobre como seria tratada caso desagradasse seu futuro marido.
Quando Cécile se colocou em defesa da escrava, Euclides não pensou duas vezes em mandá-la para o quarto a pão e água como se fosse uma criança precisando ser educada.
Ainda que Cécile viesse a gostar de Henrique - ele era divertido e a fazia se lembrar de seus irmãos -, a vida dela a cada dia tornava-se mais uma prisão.
Fernão, que já havia cumprido com o trato de entregar a noiva a Euclides, manteve-se por perto, e vendo toda a violência com que a dama vinha sendo tratada, ele não vê outra solução a não ser ajudá-la a fugir.
Mas o anúncio oficial de noivado é feito no mesmo baile em homenagem à chegada de Henrique. Era só uma questão de tempo até que houvesse o casamento e Cécile se visse, pela lei, presa a Euclides para sempre.
O relógio apontava o tardar da hora... O plano arquitetado é colocado em prática, mas daria certo? Deixaria Euclides que a vergonha de ser abandonado abatesse a sua casa sem lutar?
Passada no Séc 18, a história de Cécile mostra em tons de cinza a penúria que era para a mulher daquela época sobreviver qual ser humano. Ela era tratada como moeda, sendo trocada de mãos - e donos - ao bel prazer dos homens.
Vinda de uma família feliz, com pais amorosos, ela se viu perdida duplamente ao ficar sob a tutela de um tio e, depois, se ver sendo despachada a um outro país para se casar.
O marido, além de ser alguém que ela não conhecia, era muito mais velho, austero e vingativo. Para ele, o importante somente era sua palavra ser obedecida.
Cécile tenta a duras penas rebelar-se contra ele, mas as punições contínuas iriam acabar por quebrar-lhe o espírito.
É daí que (re)surge Fernão.
A princípio ele teve receio em enfrentar Euclides, ainda que visse, ao longo da viagem, que Cécile seria infeliz nas mãos daquele homem bruto, mas isso não era problema dele.
Depois, na fazenda, os constantes desmandos de Euclides sobre Cécile fazem Fernão mudar de ideia.
Daí, também, o sentimento que ele tinha por ela já não era disfarçado.
Junte a isso tudo o drama vivido pelos personagens secundários, como Henrique, o filho bon vivant de Euclides, e a escrava Malikah, maltratada por carregar no ventre a prova da vergonha que poderia se abater sobre a casa de Euclides.
A autora com certeza fez um belíssimo trabalho de pesquisa. Ela preocupou-se até mesmo com a forma de falar dos personagens naquela época, com suas inflexões e gírias. O ambiente também é magistralmente descrito.
O ritmo é lento.
No início, a apresentação da personagem principal é feita através da escrita do diário dela. Depois, a narrativa passa para terceira pessoa.
A história vai lentamente caminhando e só no final do capítulo 5, para o 6, que fica mais animada, coincidentemente quando a paixão do casal principal se estabelece. Mas as vias de fato, só lá para o capítulo 10. Muito tempo...
Ainda que o enredo seja interessante, a história não me arrebatou e eu levei um longo tempo para identificar o porquê.
Paixão. Emoção.
Não me refiro à emoção/paixão do casal principal. Isso eu já disse que tem. Refiro-me na narrativa. Muita técnica, muito bem escrito, mas não senti paixão nas palavras. Assisti a tudo como quem assiste a um filme, de fora, sem trilha sonora (o que num filme, no mínimo, ajuda a estabelecer as emoções necessárias em cada cena).
Li outros livros da autora e gostei.
Escrever um romance de época não é fácil. Há de se transmitir enredo, costumes e romance de uma época que não estamos familiarizados. Há de se envolver o leitor na tentativa de querer fazer parte de tudo ou, pelo menos, querer torcer pelos personagens descritos.
O livro ganhou uma continuação...
Isso significa que a autora agradou um grande número de leitores e os pedidos pela história da personagem em questão devem ter sido muitos.
Como esta é a minha opinião, incentivo que você leia os livros acima e tire suas próprias conclusões.
3 estrelas
*Gravura > Trevillion; Pinterest
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