Nina G. Jones - A Dívida



Ficha técnica: A Dívida (Debt)
Autora: Nina G. Jones
Editora Universo dos Livros
Lançamento original: 2014
Lançamento BR: 20/março/2018  LANÇAMENTO
448 páginas
Prólogo + 46 capítulos + epílogo
POV: primeira pessoa - Tax e Mia
Gênero: Romance contemporâneo; Dark

Protagonistas: Mia Tibbett; Silvio "Sil"; Judite Ann "Jude"; Tax Draconi; Rex; Tiff
Local/ano: Clint, Iowa; Milwaukee; Miami/atual (e 14 anos antes)

"Não sei onde estava com a cabeça quando contratei alguém para me atacar. Talvez estivesse entediada, solitária, ou então houvesse um vazio tão grande dentro de mim que eu precisasse de algo explosivo para preenchê-lo. Era para ser seguro. Emocionante. Uma forma de romper com a monotonia do cotidiano. Uma ilusão de perigo que desapareceria tão logo tudo tivesse terminado. Só que não foi assim. Eu estava em perigo desde muito antes de convidá-lo para entrar na minha vida. 

Minha missão estava quase completa. O desejo de vingança que fazia meu sangue ferver finalmente poderia arrefecer. Ela era a última peça desse quebra-cabeça. Quando a destruísse, todos que já me feriram teriam pagado suas dívidas. Era para ser rápido e fácil, mas assim que a encontrei, as coisas ficaram complicadas. Muito complicadas..."




Este é um livro que ainda nem saiu no Brasil, mas já está causando polêmica.
Parte disso é porque o mesmo já é muito conhecido entre pessoas que o leram no original ou por conta da tradução pirata que já rolou por aqui há muito tempo.
Vamos aos fatos do porquê as pessoas estão falando nele...

A história começa há 14 anos, na pequena cidade de Clint, em Iowa, quando um garoto acorda todo machucado.
Seu pai, ao seu lado, ao invés de agir como um pai preocupado com a saúde do filho, deixa claro que o rapaz não deve contar ao xerife o que de fato aconteceu. Logo o filho percebe que, por conta das pessoas envolvidas, muito dinheiro já havia trocado de mãos, e seu pai foi um dos beneficiados com isso.
Não havia o que aquele garoto pudesse fazer.
Pelo menos, não naquele momento.
E é a partir daí que começa o plano de vingança.

O livro se trata disso: vingança. Uma dívida a ser paga.

Damos um salto no tempo e encontramos a protagonista, Mia, uma mulher bem-resolvida.
Ela trabalha numa empresa fabricante de brinquedos sexuais femininos, a Alea Brinquedos Íntimos para Mulheres.
Ela é sozinha na vida. Perdeu a mãe na adolescência, para o câncer, e anos depois, o pai. Não tem namorado. Mas também, trabalhando numa empresa dessa, acredita-se que role muito test drive, certo?

Sua melhor amiga e vizinha é Tiff, dona de um bar.
As duas conversam sobre absolutamente tudo - como todas as boas amigas fazem -, inclusive sobre suas fantasias sexuais.
É quando Tiff comenta com Mia uma experiência que ela teve nesse sentido.
Uma cliente do bar ofereceu um cartão da empresa em que trabalhava. Esta empresa é especialista em oferecer a seus clientes a realização de qualquer fetiche sexual que tenham. Tudo muito seguro.
Tiff havia feito a experiência e estava feliz da vida, dizendo aquela vez ter sido o melhor sexo de sua vida, com muitos orgasmos ao longo da noite; que ela COM CERTEZA iria repetir a dose e que Mia TINHA que testar.

A princípio Mia achou tudo muito estranho, mas guardou o cartão.
Durante uma semana ela ficou com essa pauta na cabeça, até que numa noite, não se aguentando de curiosidade, abre o site.

Já de cara a notificação de que o serviço não é reembolsável.
A pessoa preenche um questionário escolhendo sua fantasia; o biotipo da pessoa que irá até ela realizar a fantasia e o período da semana em que aquilo pode acontecer.
A ideia é que aconteça de surpresa ao cliente para que suas emoções ante à fantasia em si sejam genuínas.
Há também perguntas sobre a saúde do cliente (que espera-se que responda com a verdade, principalmente se a pessoa tem alguma doença sexualmente transmissível e/ou HIV).
A pessoa recebe uma pergunta secreta de segurança, para constatar se o atacante é mesmo da empresa (no caso  de Mia, a pergunta era se já tinha dançado com o demônio à luz da lua); uma resposta (que não era exatamente a resposta à pergunta. No caso de Mia a resposta era "abacaxis") e, o mais importante, uma palavra de segurança caso ela quisesse desistir do ataque (arco-íris).
Terminado, Mia ficou 900 dólares mais pobre (sim, o serviço custava isso).

Ah, sim. A fantasia de Mia era ser estuprada.

Quando entra no período da semana escolhido por Mia para que o ataque acontecesse, é lógico que ela estava nervosa ante a perspectiva.
Teve o aniversário de seu chefe, Dewey.
Quando Mia voltou para casa, um pouco alta pela quantidade de bebida ingerida e estava feliz dançando ao som de Backstreet Boys, o ataque ocorre.

Com tanta bebida na cabeça - e adrenalizada como estava -, você acha que Mia lembrou de checar qualquer coisa? Claro que não! E exatamente como Tiff havia falado, aquele foi o melhor orgasmo da vida de Mia. Na verdade não um, mas três!!
No começo, seu atacante estava de máscara, mas logo Mia pede que ele a retire para não atrapalhar a performance.
Ele era muito bom ator. O ataque parecia real. Ele a tratava com desprezo, a xingava e mal dava tempo de ela se recuperar do orgasmo anterior.
No final, ele a coloca - arrastada - no chuveiro, manda que ela se lave e aproveita para partir.

Novecentos dólares muito bem investidos!!!

Nos dias seguintes, Mia estava totalmente distraída. Tudo tinha sido tão surreal - e BOM! Será que ela devia tentar uma segunda vez? Apesar da casa estar escura, ela pôde perceber alguns traços dele e, principalmente, a tatuagem de uma cobra que saía do pescoço.

Dewey chama Mia para conversar após o expediente e conta a ela que a empresa foi vendida. O comprador, um investidor que quer se manter anônimo, iria cuidar apenas dos números. Toda a equipe seria mantida. E como Mia era uma das funcionárias mais antigas, ela foi indicada ao cargo que era de Dewey.

Opa!! Promoção, aumento de salário. A vida estava sorrindo para a solitária Mia Tibbett.

Ao voltar para casa, Mia sofre um novo ataque. Mas isso não deveria acontecer, afinal, ela não havia pago por um segundo. No desespero, ela usa a palavra de segurança e, na mesma hora, o atacante para e a solta, informa que ela poderia seguir adiante.
É quando Mia comenta que já havia sido atendida em sua solicitação, e seu atacante informa que era impossível. Ele era o responsável pelo ataque dela e aquela era a primeira vez que se viam.

Qual conclusão você chega, querido leitor?
Sim, o primeiro ataque havia sido genuíno.

O que fazer? Ir à polícia denunciar? Mas como, se foi ela mesma quem "contratou" que alguém lhe fizesse isso? Além disso, não houve arrombamento na porta ou janelas, em nenhum momento o atacante a machucou e, no final, ela mesma estava aos gritos mandando-o fazer uma série de coisas nela.
O mundo de Mia vira de cabeça para baixo. Ela corre para o ginecologista para fazer os testes (sim, eles transaram sem camisinha).

Com a transferência de dono na empresa, Mia teria de focar em seu novo cargo.
Dewey comunica que eles teriam uma reunião com o novo dono. Um horário meio estranho, na terça-feira, às cinco da manhã.

Ao chegar lá, em sua melhor roupa estilo executiva, Mia descobre não só que a tal reunião seria só entra ela e o novo dono, como que ele era ninguém menos que o seu atacante, o homem da tatuagem de cobra no pescoço.

Se antes a vida dela tinha virado de cabeça para baixo, agora estava pelo avesso.
Tax queria que ela pagasse uma dívida, que ela não sabia qual era.
Ela ameaça escrever sua carta de demissão, mas ele lembra-a não só que ela assinou um contrato no qual aceita trabalhar o próximo ano para ele, como ele tinha a gravação de tudo que fizeram aquela noite. Ou ela aceitava os termos dele, ou a carreira dela estaria terminada para sempre quando ele espalhasse pela internet um certo video e sua requisição de querer ser estuprada.
E a vingança começa ali, naquela sala, cheia de acessórios de sexo na mesa.

A partir daí, leitor, Mia sofre todo tipo de assédio. Físico, emocional, moral, psicológico.
Misturado à Síndrome de Estocolmo, em pouco tempo ela se vê apaixonada pelo seu captor. E a história começa a ser desvendada.

Interessante o enredo?
Bom, para eu dar minha opinião, infelizmente, terei de dar alguns spoilers. Então, se você quiser experimentar por si só a leitura, sugiro que pare de ler a resenha AGORA.




a capa original


Clint era uma daquelas cidades do interior, esquecida por Deus, cuja única fábrica é o local de trabalho da maioria dos moradores.
Silvio, cuja irmã gêmea se chama Jude e teve a mãe morta no nascimento deles, para desespero do pai que a partir daí tornou-se um homem amargo e alcoólatra - bebendo mais do que conseguia ganhar -, teve o início de mudança de sua vida numa tarde, na aula de Ciências, quando o professor propõe uma pesquisa a ser feita em dupla, mas não poderia ser com o amigo de sempre.
Conforme todos os alunos começam a se mexer, procurando por seus parceiros, ele sabia que ninguém ia querer fazer o trabalho com ele; o garoto pobre, muito magro, de cabelo comprido e que sempre se vestia de preto.
Para sua surpresa, alguém se aproximou, e foi uma das garotas mais populares da escola, Mia Tibbett.

Daquele dia em diante, eles passaram a se ver várias vezes, ele indo para a casa dela fazer a pesquisa. Riam, conversavam, lanchavam. Para deleite dele, Mia sempre preparava algo gostoso e, às vezes, até sobrava o suficiente para ele levar para Jude.
Essa amizade levou Sil a se apaixonar por Mia.
Ele sabia que ela era requisitada e tinha namorado, Tripp, o rapaz com esperanças de jogar na Liga Nacional de Futebol, cujo pai era o dono da fábrica.
Sem coragem de dizer cara a cara, Sil resolve escrever uma carta para Mia, se declarando.

Pouco tempo depois, Sil se encontrava num local deserto, para um encontro com Mia, mas, na verdade, se depara com Tripp, seu irmão Tucker (que já tinha fama de encrenqueiro) e mais dois amigos. Era uma armadilha.
Os quatro avançam contra Sil e, para piorar, a irmã dele aparece, vai defendê-lo, é agarrada por um dos rapazes e, depois, abusada por eles.
O estupro foi tão feio que ela quase morreu de hemorragia e perdeu a capacidade de ter filhos.

Daí, encontraram-se naquela situação do início do livro: o pai deles recebendo propina para manter tudo encoberto.
Os irmãos se unem e nos anos seguintes, um a um, envolvidos naquela carnificina, é exterminado.

Até que, finalmente, chegou a vez de Mia, a causadora de tudo.
Para chegar até ela, e dentro do plano de vingança dos irmãos, eles conseguiram muito dinheiro.
O plano era matar Mia, assim como todos os outros foram mortos, mas com a história do site, do ataque de estupro, Sil/Tax muda os planos, e prefere não matá-la de vez, mas ir minando o interior dela aos poucos, até que chegasse a hora de matá-la.

Bom, nem preciso dizer que o tiro saiu pela culatra, ne?

Mesmo sofrendo uma vigança sem saber o motivo, Mia insistia em ver o "lado bom" em Tax.
Por sua vez, a irmã dele queria sangue e não ia se contentar em apenas fazer Mia sofrer. Isso era pouco para a cabecinha doente dela.

Então, Tax muda os planos - mais uma vez - na tentativa de manter Mia em sua vida, mas também agradar a irmã.
E, mais uma vez, tudo dá errado.

É tanta gente de cabeça "ferrada" neste livro que não dá nem para entender qual é o objetivo da história.

Mia usa como argumento para si mesma, para contratar a empresa de fetiches sexuais, de que era uma mulher independente, liberada, bem-resolvida e que se ela tinha uma fantasia sexual, por que não vivê-la?

Muito bem. Os psiquiatras/psicólogos/terapeutas dizem sobre a importância de se viver as fantasias - de forma adulta e consensual.
Aham. Ok.

No primeiro ataque, quando ela pensa fazer parte da contratação, na cabeça dela tudo ocorreu melhor do que a encomenda, tanto que ela pensava na possibilidade de fazer de novo.
Mas quando ela descobre que foi real, ela SURTA.
Ela fica tão apavorada que sai imediatamente de casa e vai morar num hotel.
Ela não abriu champanhe, ela não comemorou. Ela SUR-TOU.

Ah! Mas é porque na contratação, tinha a permissão dela, no ataque real, não.
Mas não aconteceu tudo bem? O cara não teve a performance do século? Ela não foi estuprada como queria e não gozou loucamente? Ela sequer pôde fazer um B.O. 
Estupro consensual pode. Não consensual, não.
Mas foi consensual, não foi? (se/quando você ler a cena, vai ver que foi para lá de consensual!!). Então por que ela surtou?

Outro ponto, sobre os irmãos vingadores.
Horrível o que eles viveram, não? Eram praticamente crianças, sofreram um ataque brutal. Ele ficou cheio de cicatrizes no corpo; ela teve cicatrizes internas e não poderia ter filhos, seu grande sonho. Queriam vingança.
Para subir na vida, não pouparam ninguém. Os rapazes envolvidos; o empresário que pagou; o xerife que recebeu proprina para forjar a história; o pai deles; a cidade inteira!! (quando ele deu um jeito de ser o novo dono da fábrica, a de Clint foi a única que ele manteve para ter o prazer de simplesmente fechá-la e deixar toda uma cidade sem emprego). Até a mãe de um deles foi morta (tá certo, ne? Quem mandou botar no mundo dois estrupícios? *sarcasmo*).
Os gêmeos não eram santos. Por vingança, tudo foi permitido. A vingança era o que os alimentava.

Jude era a pior dos dois.
Para ela não bastava destruir o negócio dos envolvidos. Não. Ela queria sangue, ela queria a morte de todos. E quando chegasse a vez de Mia, o mesmo seria pedido.
Eles não tinham vida. Eles não se envolviam - romanticamente - com ninguém.

Para um leitor um pouco mais atento, ainda surge uma outra possibilidade psicológica: o fato de Jude e Sil serem gêmeos, terem sofrido tanto juntos, ela desenvolveu um sentimento de posse pelo irmão, e não o deixava ter um relacionamento saudável com qualquer outra mulher (chegando ao ponto de ela admitir que só se sentia bem e calma quando sentia o cheiro que o irmão deixava nas roupas ou no travesseiro). Enquanto ele usava as mulheres apenas para se satisfazer, tudo bem, mas quando ela percebe que ele estava, de fato, apaixonado por Mia, começando a fazer planos de futuro, isso foi demais para ela. Então, ela dá um jeito de acabar com aquilo.

E como ficaria a cabeça deles depois da última morte? Haveria paz?

O fato de Tax se envolver e se (re)apaixonar por Mia fez tudo dar errado, e Jude não aceitou isso.
Se Tax via que a irmã estava em pior estado do que ele, e eles agora tinham muito dinheiro, por que ele nunca levantou a hipótese de procurar ajuda profissional para ela?

De todas as coisas fora do eixo neste livro, a única que concordo é que Jude chegou num ponto além de salvação, por isso, o final dado a ela acaba sendo o esperado.

A escrita da autora é interessante. Ela sabe manter o segredo e ir soltando aos poucos, mantendo a atenção do leitor.
Apesar que usa nomes parecidos, começando com a mesma letra (Tripp, Tiff, Tibbett),  confundindo um pouco.
Por este fator, o meu lado blogueira até daria uma nota mais alta.
Mas o meu lado humano não consegue fazer isso.

O que me preocupa é o fato de ver tantas resenhas dizendo que "este é o melhor livro do ano", ou ainda, "quero um Tax para mim!!"

Oi?!?!

Você quer um estuprador em sua vida?
Só porque ele é alto, bonito, rico e "pauzudo"?
Mas e aquelas postagens em redes sociais a cada vez que uma mulher é atacada, ou sofre violência doméstica? E a campanha do #TimesUp?

Este livro foi lançado ANTES da campanha Time's Up (2014), mas no BR ele vem no olho do furacão.
A linha tênue entre o que é fetiche saudável/consensual e violência se rompeu, e as pessoas ainda não se deram conta.

Não tenho estrelas para dar.
O assunto é sério demais para fotos engraçadas ou GIFs.

Esta é MINHA opinião.
Boa leitura.


Comentários

  1. Aquela resenha que você RESPEITA.
    Não é por acaso que te admiro, concordo com tudo o que vc falou.
    Eu até achei a escrita da autora interessante, mas o conteúdo... Esse livro é horrível! Sempre me pergunto, quando vejo alguma leitora falar que AMOU, se essa pessoa tem noção do que significa ESTUPRO pra quem sofreu uma barbárie violenta e horrenda dessa. Graças a Deus eu nunca, mas me sensibilizo e posso imaginar o horrível que é.
    Tantos livros maravilhosos, e infelizmente as editoras investem em lixos como esse. Lamentável!

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    1. Obrigada, Dri.
      É só minha opinião em meio a tantas outras super favoráveis ao livro. Cada um lê o que lhe apetece...

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  2. Oi! Estou na metade do livro e estou gostando muito! Vamos ver no que vai dar ;)

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  3. Eu li o livro e alguém sabe se tem alguma continuação??

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