[Espólio Bienal 2015] Catarina Muniz - A Dama de Papel




Ficha técnica: A Dama de Papel
Autora: Catarina Muniz
Editora Universo dos Livros
Lançamento: 04/setembro/2015
256 páginas
POV: terceira pessoa
Gênero: Romance histórico; drama

Protagonistas: Molly; Albert Miller; Charles O'Connor
Local/ano: Londres/1875

"Localizado na zona periférica de Londres em meados do século XIX, o bordel de Molly está sempre repleto de fregueses: ricos e pobres, magnatas e operários. O que nenhum deles sabe - nem mesmo as outras trabalhadoras do estabelecimento - é que a dona do prostíbulo optara por ser "mulher da vida fácil" após fugir de um casamento forçado, abrigando-se nas entranhas de um cortiço na busca indelével por liberdade.
Certa vez, no entanto, Molly é inebriada pelas propostas de um cliente: Charles O'Connor, o herdeiro de um império têxtil, deseja que ela seja somente sua. Molly, arrebatada pelas sensações provocadas pelo novo amante, se vê obrigada a questionar o modo de vida que conduzira com orgulho até então, além de testar os limites da liberdade obtida a duras penas.
Entregues à avassaladora paixão e à incrível química sexual que os unem, Molly e Charles precisarão enfrentar as represálias que os unem, Molly e Charles precisarão enfrentar as represálias sociais e a moral conservadora da época para dar continuidade a este amor proibido. Mas terão de pagar um preço alto por suas decisões."


Revolução Industrial. De um lado, os ricos e poderosos, com suas casas monumentais, suas roupas que só serão usadas uma única vez (que dama iria repetir uma vestido?), e suas carruagens opulentas. Do outro, a pobreza; a cidade fétida; os desdentados à procura do pão de cada dia e fazendo o impossível para manterem-se vivos por mais um dia.

Melinda Scott Williams nasceu no lado rico da vida. Burguesa, boa educação, seu pai queria casá-la, aos 20 anos, com Albert Miller, um dos maiores financistas de estradas de ferro do país. Suas irmãs a achavam sortuda, mas Melinda tinha uma cabeça diferente das delas. Ela gostava de cavalgar com as saias levantadas, os cabelos soltos, gargalhando, de uma maneira selvagem.
Ao ver-se presa a um compromisso que não queria assumir, fugiu de casa pela janela, levando pouca coisa consigo e acabou sob a asa protetora de Lola, uma cafetina que ensinou-lhe tudo da profissão. Ali, morria Melinda e nascia Molly.

Quando Lola morreu, sem herdeiros, Molly assumiu o negócio e contratou mais garotas. A fama de Molly espalhou-se e homens cada vez mais ricos ocupavam sua cama, mas não o seu coração.
Numa tarde, sem hora marcada, um homem bem vestido aparece e lhe propõe um desafio: se ela fosse tão boa quanto sua fama lhe precedia, ele lhe pagaria até 3 vezes o seu valor normal; se não, ele não pagaria nada. Molly venceu o desafio. Este novo cliente era Charles O'Connor.

Charles era casado com Katherine. Tinham dois filhos, os gêmeos de 5 anos, Jonathan e Jeremy. Filho mais velho de Sir Paul O'Connor, Charles era o braço direito do pai nas indústrias têxteis da família. Seus irmãos Francis e Julie só sabiam gastar. Estudara Direito e era culto. Aos 37 anos, levava a vida que os outros queriam. Não era feliz no casamento, apesar de admitir que Katherine era uma esposa linda e exemplar. Seu pai não deixava que tomasse as decisões finais nos negócios e isso o frustrava. Encontrar uma mulher como Molly acabou tornando-se a válvula de escape dele porque mesmo sendo uma mulher de vida fácil, Charles sentia que Molly era diferente das outras.

Sua segunda visita ao bordel se deu quando este estava fechado num período de luto por uma das garotas que havia morrido vítima de um aborto. Molly estava tão desconsolada que o recebera mesmo assim e não o deixara pagar. E fizera algo inédito: disse a ele o seu verdadeiro nome.
Naquela noite, Katherine procurou Charles maritalmente, e ele não lhe negou, mas já não sentia prazer com ela. Era como estar deitado ao lado de uma "fina porcelana". Linda, mas fria.
E Charles tinha um hobby, escrever suas memórias. Ele não as assinava, eram escritas em papéis soltos, mas ali ele conseguia expressar o que sentia, principalmente por Molly.

Charles fica sabendo, na recepção de um casamento, que outros homens de seu meio social visitavam Molly. Numa roda de conversa entre cavalheiros, o nome dela é exaltado, e até mesmo o pai de Charles fica interessado na história da prostituta.

Com sua fama só aumentando, Molly acaba recebendo a visita do pai de Charles (este acaba pedindo a ela que nunca mais o recebesse) e de Albert, que descobre o paradeiro de sua noiva fujona e como vingança a faz deitar-se com ele do modo mais sórdido possível.
Desesperada, Molly conta a Charles toda sua história e a visita que recebera de Albert.
Ela soube através de um outro cliente que Albert era casado agora com uma de suas irmãs, mas ela tinha certeza que ele iria querer voltar a vê-la.
Charles fica estupefato ao saber que Molly - ou Melinda - viera de tão refinada família, mas preferira tornar-se prostituta. Ele propõe que ela abandone essa vida, ele arranjaria um trabalho digno para ela, mas ela fica ofendida e não aceita. Ela argumenta que assim tem a sua liberdade. E é de Charles uma das verdades mais profundas ditas no livro:

"É no mínimo irônico que, mesmo sendo tão dona de si, Albert tenha conseguido obrigá-la ao coito... Como se, no fim das contas, você não fosse tão livre como gosta de acreditar."


Cada vez mais envolvido por Molly, Charles entra num processo de desespero a tal ponto que paga a ela para que seja exclusiva sua por um mês. Sentindo-se também atraída por ele mais do que já sentiu por qualquer outro cliente, ela cede.
Enquanto isso, Albert põe alguém a vigiá-la. Sendo sempre colocado para fora do bordel, ele quer saber com quem Molly anda se deitando. Chantagem, vingança, Albert fará de tudo para pagar na mesma moeda a vergonha que Melinda o fez passar quando fugiu para não ter que se casar com ele.

Numa tarde em que Charles estava com Molly, Albert invade o bordel e descobre que a exclusividade dela pertencia ao O'Connor. Este dá uma surra em Albert e o põe para fora. Mas Albert não deixa barato e conta tudo ao pai de Charles. Além disso, duas das fábricas da família misteriosamente pegam fogo. Se antes já estavam com problemas em manterem as fábricas - sindicatos -, agora Charles teria que se desdobrar se quisesse manter o patrimônio da família. E mais, Albert também conta ao pai de Melinda quem ela é e onde vive e ele aparece no bordel com a polícia e a prende por prostituição.

Agora Charles tinha duas preocupações: salvar o patrimônio e Molly.
Ele a tira da cadeia e a coloca numa casa afastada. Mas Molly, acostumada a tomar suas próprias decisões, infeliz por não ter a atenção de Charles o quanto queria, sucumbe mais uma vez à sua "sensação" de liberdade.




A pobre menina rica que prefere pagar na própria pele por seus pecados, ser dona de seu nariz, submeter-se aos homens que não ama - ricos, pobres, cheirosos ou fedidos. O rico empresário preso às convenções, a um casamento sem amor e sem tesão, a uma submissão às ordens de alguém retrógrado e centralizador. Duas pessoas que encontraram a paixão e o amor no local menos provável, num prostíbulo; que viveram intensamente cada momento. Brigaram, amaram, lutaram por seus ideais. E, acima de tudo, acabaram tornando-se lenda através dos escritos anônimos espalhados pela cidade e tornados uma obra de sucesso.



Um romance de época, histórico, que nos traz a realidade crua de uma sociedade que vive de aparências, que mutila as pessoas autênticas, que preserva a casca e sufoca o conteúdo, que transforma seres humanos em bonecos e sentimentos em lembranças do que poderia ter sido, mas acaba por ser mais bonito numa folha de papel...

Capa linda. Narrativa muito bem construída. Enredo que prende. Personagens verossímeis. Final forte.

5 ESTRELAS!!!

Sobre a autora






Comentários

  1. Obrigada, Vânia! Pelo tempo, pela atenção, pelo carinho e por esse apoio INDISPENSÁVEL! Muito, muito feliz com essa resenha!

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  2. Ótima resenha!!!!
    Já estou lendo o livro e a narrativa confere, dinâmica e bem construída, recomendo!!! ;)

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  3. Ro, é o final certo pra história. Leia.

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