[Resenha] Love is in the Air (volume #1) - Contos



Ficha técnica: Love is in the Air
Autoras: Eva Zooks; Tamires Barcellos; Catarina Muniz e Paola Scott
Editora Ler Editorial/The Gift Box
Lançamento: 2017
252 páginas
04 contos com número variado de capítulos
POV: variado
Gênero: Romance contemporâneo erótico

Local: Inglaterra; São Paulo; Escócia; Irlanda

Ah, o Amor! As dificuldades, os calafrios, os encontros inesperados, os pensamentos loucos...
Nos quatro contos de Love is in the air você vai conhecer lindas histórias, românticas e quentes, sobre esse sentimento cheio de altos e baixos. 
Eva Zooks, Tamires Barcellos, Catarina Muniz e Paola Scott apresentam contos ambientados em Londres — a terra da Rainha, do chá e de cenários incríveis — para você se apaixonar como nunca antes.




O livro é uma compilação de quatro histórias, de quatro autoras diferentes, cada uma dando vida a personagens intensos, com muito romance e erotismo. Em todas, o fator em comum é a Inglaterra. Cidades e bairros são mencionados e visitados de forma elegante e enigmática.

A capa, em desenho, é diferente das atuais - na maioria trazendo modelos quase se beijando ou com pouca roupa - e muito fofa.

A organização do trabalho foi feita por Beatriz Soares, blogueira e organizadora de eventos literários.
O prefácio vem sob a chancela de ninguém menos que a autora Nana Pauvolih, ela mesma reconhecida por escrever livros eróticos.

Como cada autora tem características próprias de escrita, seria injusto que eu desse minha opinião de uma forma generalizada, por isso, mencionarei o que achei de cada conto. Infelizmente, em alguns casos, será inevitável o surgimento de alguns spoilers.
Das quatro autoras, duas foram novidade para mim.

Se você definitivamente não quer ter spoilers, mas prefere descobrir por si mesmo sobre o livro, sugiro que pare de ler a resenha agora, ficando de posse apenas das informações contidas acima.
No entanto, se você deseja saber mais, boa sorte aí embaixo.



Vamos trazer os contos pela mesma ordem em que se apresentam no livro.
Começamos pelo conto LEMBRANÇAS DE UM OUTONO EM LONDRES, de Eva Zooks.

Gabriela, nossa protagonista, encontra-se feliz, levando consigo uma cesta de picnic, indo encontrar o grande amor de sua vida no que parece ser um parque. E eis que este não a decepciona, aparecendo no horário certo.

Edmond, um ex-soldado da Coroa Britânica, sempre tão lindo aos olhos dela, também é perdidamente apaixonado por sua Gabriela.
O casal, não se aguentando de saudade, parte para os arroubos amorosos ali mesmo, num local que outras pessoas poderiam ver, mas sua felicidade é tamanha que eles pouco se importam.

Pelos diálogos dos amantes, o leitor vai percebendo que este romance entre eles é algo entre probido e misterioso, pois, os encontros parecem só acontecer muito de vez em quando.
Daí, a pergunta: seria um deles casado? 

O interessante é que no início do conto, a autora cita um texto bíblico, Salmo 23:

"Ainda que eu ande pelo vale das sombras da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo."

E depois de passarem por uma tarde tão agradável, entre fazer amor, lanchar e conversar, antes de partir, Gabriela faz uma oração, o que, mais uma vez, toca o coração de Edmond.
Ela diz que precisa partir antes "que os portões se fechem".

Então, ela parte, e a partir daí vem toda a revelação do segredo desse grande amor.
O diálogo a seguir é entre Edmond e "Morigan" (na verdade, a grafia é Morrigan, a grande deusa celta da batalha, conflito e fertilidade. Ou, como trazido pela autora, "associada a vingança, guerra e morte").

O leitor, então, descortina o enredo, entendendo que Edmond está morto.
O seu amor por Gabriela e seu ódio por seu assassino (ele foi morto de forma covarde) o mantiveram preso naquele "plano". Pouco antes de morrer, através de uma antiga canção, ele invocou a deusa, que facilitou com que ele ficasse daquela forma.
Entretanto, ele tinha consciência de que não só ele estava preso a uma meia-vida, mas que também prendia Gabriela a ele, impedindo que ela tivesse a chance de ser plenamente feliz com outro.
E para libertá-la dessa "prisão", ele precisava fazer algo grandioso.

Minhas considerações:
O enredo é interessante. Eu, particularmente, gosto de histórias fantasias assim, e quando estas nos trazem em seu âmago um grande amor que ultrapassa tempo, espaço e desejos, tudo parece se tornar mais bonito, ainda que seja estranho.

Porém... Alguns detalhes ficaram nebulosos.
É claro que como é um conto e a autora não detinha muitas páginas para trabalhar seu enredo, entendemos que suas explicações teriam de ser mais contidas... mas não confusas.
Senão, vejamos.

A princípio fiquei confusa em qual tempo a história se passava - atual ou de época. Citar uma mulher andando de vestido com uma cesta de picnic na mão poderia ocorrer agora, assim como no século 19. Até porque a autora dá muita ênfase no trabalho de nosso protagonista. Mas, como logo adiante fala que ao sair do local do encontro, Gabriela correu para pegar "o ônibus vermelho", então, a gente conclui que é uma história moderna.

Depois, sobre o tempo em que os amantes se encontravam.
A impressão que dá é que essa maldição ocorria há muito tempo e, por isso, Edmond se preocupava com o fato de estar prendendo sua amada a ele, um morto.
Mas a autora também enfatiza que tudo isso vem acontecendo há dois anos:

"Há dois anos que as lembranças do outono a perseguiam e as cores que pintavam as ruas de Londres não mais aqueciam seu coração."

E o casal só se encontrava uma vez por ano:

"- Não tarda muito estaremos juntos novamente.
- 365 dias, 8766 horas, 52.560 minutos e 315.360,00 segundos, conto cada miserável dia."

Isso quer dizer que aquele ainda era o segundo encontro do casal!
Toda aquela conversa Shakespeariana e todo aquele drama e ainda era somente o segundo encontro?
                                         

                                       


Ok, eles estavam apaixonados e manter-se afastado numa situação dessa é horrível.
Mas do jeito que aquela situação foi apresentada ali?...


Mais uma coisa, no epílogo há uma descrição sobre o local em que os amantes se encontravam. É muito bom quando o leitor constata que o autor fez o dever de casa e pesquisou sobre locais e cultura de onde a história se passa. No entanto, três parágrafos foram retirados 'ipsis litteris' da página Wikipédia e não foi dado nenhum crédito de onde a informação foi retirada. Isso é chato. Como Mestre em Literatura Brasileira Contemporânea, a autora sabe da importância de se dar crédito a quem fez a pesquisa.
1 estrela.

O segundo conto, SUSSURROS DO CORAÇÃO, é de Tamires Barcellos. É a primeira vez que leio algo dela.

O início é bem interessante, trazendo a história de Samantha Campbell, uma jovem de quase vinte anos que parece viver a vida da Gata Borralheira.
Vivendo com seus pais, ela faz todo o serviço da casa mas de uma maneira quase escrava, sem ter direitos.
O seu único prazer é ir até a biblioteca para pegar alguns romances e, com isso, conseguir viajar através da fantasia.

Mas na rua há um novo morador. E pelos comentários dos vizinhos, trata-se de um mau elemento, todo grande, motoqueiro, tatuado.
Com isso, o pai de Samantha acha melhor ela não ir mais à biblioteca para não ter o desprazer de encontrar com o sujeito. No entanto, a mãe pondera que talvez fosse melhor deixar a filha ir sim, apenas alguns dias na semana, ao invés de todo dia, porque eles já haviam sido elogiados pelo fato da filha ser tão aplicada e gostar tanto de ler. Isso dava um certo status a eles. Isso sem contar que para arrumar um bom casamento para a filha, ela precisaria ser vista (sempre por motivos egoístas).

E nisso, o leitor vai tendo pena e criando empatia por Samantha.

Até que no dia em que ela vai à biblioteca, na volta, ela se distrai e quase é atropelada. Ela é salva por ninguém menos que o novo vizinho.

Tão logo sai do hospital e se recupera, Samantha dá um jeito de ir até a casa dele agradecer, mas a recepção que ela recebeu não foi a esperada.

Henry Scott realmente era grande, tatuado e tinha uma cara de mau. Samantha não se deixou abalar pela aparência e insistiu que deveriam ser amigos. Para ela havia uma razão - ainda não compreendida - para aquele encontro.

Ele estranha a persistência dela em querer agradecer tão veementemente. Ele até mesmo tentou negar que havia sido ele a salvá-la, mas logo Samantha o conquistou.
E, timidamente, foi dado início à amizade.

Trocaram números de telefone, trocaram mensagens, tipos de músicas que mais gostavam, e quando surgiu a oportunidade, numa viagem em que os pais dela fariam para Cambridge, Henry e Samantha foram de Cotswolds, onde moravam, até Londres, passear no London Eye.



O passeio entre amigos acaba por se tornar algo romântico, e no retorno, Samantha mandou o bom senso às favas e foi direto à casa de Henry.
Para azar dela, os pais voltaram de viagem mais cedo. Preciso dizer que houve barraco?

Mas como Samantha tinha um enorme desejo interno, talvez esse acontecimento drástico - e até humilhante naquele momento do tipo "bora chamar a vizinhança!" - a ajudasse a obter a realização de seu desejo:

"Sabe qual é o meu sonho? Ser livre."

Minhas considerações:
Duas pessoas de almas fortes, mas aprisionadas.
Samantha tinha pais que não lhe tinham carinho e detestavam o fato de ela ter nascido mulher. Estudou até o Ensino Médio e não havia qualquer interesse em que ela fizesse algo mais, a não ser o serviço de doméstica.
Já Henry carregava seu quinhão de sofrimento desde a infância, com a morte da mãe tão prematuramente e ser deixado nas mãos de um pai que, depressivo, esqueceu que tinha uma criança a criar.
Henry tornou-se o adulto da casa e, junto com isso, veio a revolta pela vida que tinha, levando-o a tomar decisões erradas.

Até que ele e Sam se encontraram.
O romance é tenso e fofo ao mesmo tempo.

Eu não gosto quando autores descrevem letras inteiras de músicas, sempre há o perigo de dar problema com direitos autorais; isso sem contar que deixa a história chata. Mencionar trechinhos específicos que tenham a ver com a cena é uma coisa, ficar transformando o livro num cancioneiro é outra.
E sobre a comida que Samantha prepara para Henry... achei a mistura uma coisa muito brasileira. Não que os dois pratos não existam na Inglaterra, é claro que existem, mas aquela mistura é coisa de brasileiro, que mistura qualquer coisa com feijão ou arroz. Os britânicos não costumam fazer daquele jeito.
3,5 estrelas

O terceiro conto é de Catarina Muniz, autora de A Dama de Papel (2015), um romance de época belíssimo (deixo a resenha aqui >> leia a resenha), chamado A MANIA DA NINFA.

Este daqui é do tipo "segura o forninho".


Diferente dos outros contos que trazem as histórias do ponto de vista do casal ou apenas da personagem feminina, este aqui é exclusivamente de Richard, um médico recém formado, que está em seu período de residência no hospital St. Mary, e conhece Elizabeth.

Esta, uma mulher forte, decidida, cardiologista, que o encanta por seu profissionalismo, mas também, por seu lado misterioso.
Elizabeth não era de confraternizar com seus colegas de trabalho.
E logo chega aos ouvidos de Rick que ela também era perigosa. Dois outros médicos haviam sido demitidos por se envolverem com ela.

Apesar dos avisos dos colegas para se manter afastado dela, todo esse segredo só fez com que Rick quisesse saber mais sobre Liz... Até que ele descobre.

Liz era compulsiva por sexo.
Toda vez que ela se encontrava numa situação de estresse como, por exemplo, após perder um paciente, ou num atendimento muito difícil, ela corria para o almoxarifado para "se aliviar".
E acaba que Rick entra na mesma jogada que ela.

A diferença era que ela tinha consciência do que fazia e ainda que aquilo começasse a sair do controle, ela não queria ajuda.

Richard estava apaixonado.
Ela podia não ser a mulher mais bonita do mundo, mas era sexy pra caramba, e não tinha medo de expor seus desejos e ousar realizar suas fantasias em qualquer lugar. MESSSSSMO!!!!

Só que com o tempo, todo esse "fogo" começou a queimar Rick, e a atrapalhar a sua carreira. Ele teria de escolher entre seu trabalho (sua sanidade) ou Elizabeth. E ele sabia que ela era sinônimo de loucura.

O casal se separa e cada um segue seu caminho.
Liz nunca o procurou, enquanto Rick não conseguia deixar de imaginar o que ela estaria fazendo e com quem.

O tempo passou. Eles trabalhavam em turnos diferentes; Rick montou o seu consultório; começou a namorar uma advogada muito bonita e casou. E logo o sonho dele de ser pai seria realizado.

Mas em seu caminho havia uma pedra chamada Liz. E ela estava ainda mais linda... Como resistir a tamanho desejo, atração, tesão?



Lembrando que a carne é fraca.
Mas como? Ele tinha mulher, um filho recém-nascido, uma família e um trabalho a zelar...

É aí que o leitor busca de que lado vai ficar... e a decisão é dura após saber de todos os fatos.

Minhas considerações:
Quando vi o título do conto, pensei que o "ninfa" tratava-se pelo fato da personagem ter uma beleza etérea; aquela coisa Rosana, "como uma deusa"...



Mas não, gente, é de ninfomaníaca mesmo.
Ela é muito, muito, MUITO viciada em sexo.
Ela quase mata o Richard de inanição e privação de sono.

Como a história é contada por ele, a gente vê mesmo todo o envolvimento que se segue. A admiração misturada à luxúria, à dependência, à paixão. Por mais que ele visse que ela estava se destruindo - e o levando junto -, ele não conseguia se libertar.

Mas daí, ele conseguiu.
Ele casou, teve filho.
E quando ele sofre a escorregada (Oops! Olha mais spoiler), você até tenta ser legal e dar uma justificada para o cara.
Porém, quando ele faz aquela proposta a Liz...


Sorry, aí, não dá para perdoar.
Ele tinha plena consciência do que fazia.

Mas era paixão, era amor, blá blá bla... Ok. Mas ele traiu. E feio. E repetidas vezes. E só teve coragem de confessar à esposa (sim, porque ela o confrontou e mesmo assim ele mentiu) quando o pior aconteceu.

A partir de então, o leitor tem acesso às informações do passado de Liz, o porquê de ela ter se tornado assim.
Tudo muito bem explicado, a autora mostra cenas fortíssimas (especialmente aquela que causa a admissão de Liz de que precisava de ajuda), e, por esse fator, o conto é muito bom.

Mas a traição, cara...


Leia e tire suas próprias conclusões.
Liz merecia ajuda, mas Ana não merecia aquilo.

E como a gente não pode perder a piada, tem uma culpada...


4 estrelas.

E por último, temos o conto NOS ARREDORES DE LONDRES, de Paola Scott. Também é a primeira vez que leio algo dela.

Paola nos traz uma brasileira, gaúcha, Catarina, que iria comemorar sua recente defesa de Mestrado em Literatura e seu novo trabalho como tradutora em uma editora, fazendo uma viagem pela Europa.

O must!!

O voo faz escala em Amsterdã e, depois, rumo a Londres.
Enquanto passeava pela cidade, ao entrar numa livraria, ela percebe que estava tendo uma tarde de autógrafos, e apesar de ela não conhecer o autor, achou que seria interessante ter o livro. Quem sabe o livro dele logo chegaria ao Brasil?
E é quando ela conhece Sebastian Wood.

Alternando o ponto de vista da história entre o casal, entramos na intimidade deles enquanto Catarina permanece na capital inglesa.
Sebastian logo fica fascinado por aquela brasileirinha que não tinha medo de dar sua opinião sincera sobre todo e qualquer assunto.
Por sua vez, Catarina não só gostou da escrita de Sebastian (ela não resistiu e logo se pôs a ler o romance dele), como pelo próprio, com seu corpo bem esculpido de lenhador.

Além de ser escritor, Sebastian ajudava seu pai a administrar a fazenda de corte de madeira (daí o apelido que ela dá a ele).
A atração é grande e eles não se negam ao prazer. Mas a viagem dela continuaria pelos outros países até que ela voltaria ao Brasil.

Após esse período, eles ainda se comunicam por mensagens e telefonemas, e ela teve o prazer de ser a tradutora do primeiro livro dele no Brasil.
No entanto, havia uma distância considerável entre eles, e como fazer tudo isso funcionar com chances de ter futuro?

Minhas considerações:
Das quatro histórias, esta é a que parece ser a mais simples, e, para mim, foi a que acertou mais no alvo.
O máximo de complicação era o fato de eles morarem em continentes diferentes.
Houve sincronia, simpatia, empatia, atração, tesão e paixão, com grande possibilidade de se transformar em algo mais.
Aqui, o menos foi mais, e, por isso, minha preferida.
5 estrelas.

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